O potencial da caatinga

Quando pensamos em preservação florestal e créditos de carbono é difícil pensar no bioma da Caatinga, não é mesmo?

Seria o bioma semiárido exclusivo da realidade brasileira elegível para esses tipos de projetos? A resposta é: SIM!

A primeira observação que precisa ser feita é que a Caatinga abriga áreas de floresta. A paisagem da Caatinga abrange sim áreas mais áridas, mas também contempla áreas com intensa cobertura vegetal. Um bom exemplo é a Reserva Natural Serra das Almas, a maior reserva particular do patrimônio natural do Estado do Ceará, gerida pela Associação Caatinga – que, além das ações de reflorestamento, já está desenvolvendo o primeiro projeto de créditos de carbono deste bioma¹. 

A segunda informação que precisa ser compartilhada (e que é bombástica) é que o bioma da Caatinga, pelo menos considerando o que os estudos têm demonstrado até o momento, é o mais eficiente em termos de fixação de carbono: a cada 100 toneladas de CO2eq absorvidos, 45 toneladas são retidas. Ou seja, são definitivamente retirados da atmosfera e estocados na biomassa vegetal (solo/vegetação). Isso considerando inclusive as regiões mais áridas (menos florestadas)².

É bem verdade que o bioma da Caatinga não sequestra tanto carbono como, por exemplo, o bioma da Amazônia. Estamos falando, em média, de 90 toneladas de CO2eq por hectare na Caatinga, versus 300 toneladas de CO2eq por hectare na Amazônia. Mas a fixação do carbono na Caatinga é muito maior, porque neste bioma a vegetação emite menos CO2eq para a atmosfera: estamos falando, em média, de uma taxa de retenção de CO2eq de 45% na Caatinga, versus 17% na Amazônia. 

A Caatinga passa a ser um grande emissor de carbono para a atmosfera em períodos de seca extrema, em que as chuvas fiquem registradas abaixo de 200mm. Em circunstâncias normais, no entanto, este não é o cenário que se verifica: a taxa média de pluviosidade gira em torno de 400mm.

A terceira informação extremamente importante é que o bioma da Caatinga sequestra e estoca carbono de uma forma diferente de outros biomas. Por isso a metodologia que vai ser utilizada para realizar o inventário na região é absolutamente diversa. 

Um exemplo bastante ilustrativo: enquanto na Amazônia o levantamento da biomassa contabiliza principalmente árvores grossas, no bioma da Caatinga são contabilizadas árvores de diâmetros a partir de 3 cm, sendo que as árvores finas fixam maior volume de carbono do que as grossas (em torno de 46,71 ton/ha CO2eq para árvores finas, versus 44,31 ton/ha CO2eq para árvores grossas).

A eficiência da Caatinga na fixação do carbono e, também, na fixação de água, tem chamado a atenção do governo federal, principalmente considerando o contexto de aquecimento global. 

A forte tolerância à seca e o fato de a Caatinga ser o bioma semiárido mais biodiverso do mundo despertaram no Governo a percepção de que a Caatinga é um laboratório à céu aberto para as mudanças climáticas e tem muito a nos ensinar em termos de resiliência. Espécies animais e vegetais sobrevivem aos períodos de seca, apresentando diversos mecanismos e estratégias para lidar com a falta de água. Por isso, já foi anunciado pelo Governo Federal que mais esforços serão voltados para desenvolver estudos e projetos na região.

Além da questão hídrica estar intrinsecamente ligada aos projetos desenvolvidos na Caatinga, que também é um tema ambiental extremamente sensível em paralelo à questão da emissão de gases do efeito estufa, há também, na região, um forte apelo social. Por esta razão, alternativas estão sendo orquestradas para tornar mais atrativos os créditos de carbono emitidos considerando este bioma.

Assim surgiu o “crédito de carbono social”, desenvolvido pela Associação de Produtores de Crédito de Carbono Social do Bioma da Caatinga. O projeto engloba não apenas a questão de remoção de gases do efeito estufa, mas diversas outras cadeias regenerativas, como reciclagem, eficiência hídrica, energia solar, bioenergia e bioeconomia. Agrega valores financeiros referentes a outras entregas de projeto, como inclusão social, capacitação, redução de desigualdades, extrapolando de uma forma estrutural a questão ambiental. Desta forma, o projeto está alinhado à forte tendência global de valorizar mais (ou valorizar apenas) os créditos de carbono que estejam associados a efetivos impactos sociais.

Dito tudo isso, a conclusão é que o potencial da Caatinga é gigante. E só está começando.

 

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¹ Confira mais informações em:  https://www.acaatinga.org.br/serra-das-almas/ 

² Fonte: Embrapa Semiáridos: https://www.youtube.com/watch?v=e-r2UnlIb5M

Imagem: Canva

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